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ARISTIDES DE SOUSA MENDES

Diplomata e político português, filho de Maria Angelina Ribeiro de Abranches e do juiz José de Sousa Mendes, nasceu a 19 de julho de 1885, em Cabanas de Viriato, concelho de Carregal do Sal, no distrito de Viseu

Cursou Direito na Universidade de Coimbra e, tal como o seu irmão gémeo César, após a licenciatura, em 1907, acabou por seguir a carreira diplomática

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A 12 de maio de 1910, foi nomeado cônsul de 2. a classe na Guiana Britânica, passando depois a exercer funções em Zanzibar, onde ganhou muito prestígio. Aqui, juntamente com Angelina de Sousa Mendes, sua esposa e mãe dos seus 14 filhos, sofreu alguns reveses de saúde, agravados sobretudo pelo clima paludial daquela zona africana. Assim, solicitou várias vezes a transferência e acabaria por ver atendidos os seus desejos em fevereiro de 1918, altura em que foi nomeado para desempenhar o mesmo cargo em Curitiba, no Brasil

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Ainda nesse ano, em plena ditadura de Sidónio Pais, foi promovido a cônsul de 1. a classe. Porém, devido às suas convicções monárquicas e antirrepublicanas, veria, em 1919, as suas funções serem suspensas – um despacho ministerial colocava-o no estado de disponibilidade, situação que geralmente significava inação ou, eventualmente, a atribuição de um serviço irregular que implicava sempre uma perda considerável do vencimento

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Em meados de 1921 foi convidado a dirigir temporariamente o consulado em S. Francisco, na Califórnia. Os dois anos aqui passados terão contribuído, devido ao elevado custo de vida americano e simultaneamente à redução salarial a que tinha sido sujeito, para o estado precário da sua situação financeira. Foi solicitado mais do que uma vez para voltar ao Brasil até que, em 1926, uma portaria obrigou-o a regressar a Lisboa para prestar serviço na Direção-Geral dos Negócios Comerciais e Consulares

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Com o golpe de Estado de 28 de maio de 1926, Sousa Mendes foi nomeado cônsul em Vigo. Apoiando e servindo desde o seu início o regime ditatorial, recebeu várias vezes louvores de Salazar. Todavia, com o afastamento do irmão do cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros, Sousa Mendes ficou revoltado com o governo, não entendendo a "duplicidade, a deslealdade e a intriga que caracterizavam o funcionamento interno do Palácio das Necessidades

".

De 1931 a 1938 foi cônsul em Antuérpia, sendo então transferido, mal-grado seu, para Bordéus. No entanto, foi devido a esta transferência que Aristides de Sousa Mendes viria a desempenhar o papel público mais importante da sua vida. À medida que crescia na Europa o Nazismo, crescia também o número de refugiados, sobretudo judeus. Muitos deles escolheram Bordéus, então sob o governo de Vichy, como destino temporário

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Aí, Sousa Mendes, contrariando instruções formais recebidas, concedeu milhares de vistos – julga-se que cerca de 30 000 - a judeus que procuravam escapar ao extermínio nazi. Chegou mesmo a albergar refugiados na sua casa em Bordéus e na sua residência de Cabanas de Viriato. Estas atitudes desagradaram muito a Salazar, que o destituiu em 1940

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Sousa Mendes ainda apelou para o Supremo Tribunal Administrativo e para a Assembleia Nacional, mas de nada lhe valeu. Em Bordéus, porém, foi-lhe erguida, em 1994, uma estátua

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Em 1949, Aristides de Sousa Mendes, sem a sua esposa, que morrera um ano antes, e sem os filhos, maioritariamente emigrados nos EUA, viria a casar com Andrée, de quem tinha tido uma filha. Acabou por morrer a 3 de abril de 1954, no Hospital da Ordem Terceira, em Lisboa, só e com imensas dificuldades financeiras

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Depois da sua morte, os seus bens foram vendidos em hasta pública ainda para pagamento de dívidas. Restaram apenas as paredes da sua casa que, à mercê de estranhos, foram, ao longo dos anos, aproveitadas para abrigo de animais

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Em 1967, Yad Vashem, uma organização estatal israelita para a recordação dos mártires e heróis do holocausto, homenageou Aristides de Sousa Mendes com uma das suas mais altas distinções. Em 1987, o presidente da República Mário Soares conferiu-lhe, a título póstumo, a Ordem da Liberdade e, em 1989, a Assembleia da República reparou a grave injustiça que lhe fora cometida, reintegrando-o no serviço diplomático por unanimidade e aclamação

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A 6 de abril de 2005 foi homenageado nos Estados Unidos da América, e a sua coragem e determinação em salvar judeus no tempo da Segunda Guerra Mundial irão ser recordadas para sempre na Galeria dos Salvadores do Museu da Herança Judaica, em Nova Iorque.


TODO O TEXTO FOI COPIADO DA  BASE DE DADOS ENCONTRADOS NUM SITE DA NET


Esta minha partilha vem ao encontro de um documentário que vi, ontem na RTP, mas também porque já tinha visto um filme francês sobre a sua vida. Tive conhecimento da sua existência, nos finais dos anos 80 do séc XX. Nunca foi referência na história de Portugal, ou como uma personagem de Valor Humano, na nossa sociedade. É mais conhecido fora de Portugal, do que no País que o viu nascer. Seguiu os seus princípios; segundo as suas palavras: prefiro ir contra a lei dos homens que contra a lei de Deus! Não existe raça, cor ou religião que me permita agir de outra forma!

È lembrado por descendentes das muitas famílias que ajudou a fugir. Isso é bem presente, no documentário. A sua casa ainda existe, mas deixada num abandono que dói. Não só pela sua arquitetura, mas pela memória deste Homem, que preferiu agir, em vez de ficar de braços cruzados perante toda esta atrocidade. Uma das testemunhas, dizia, que se estivesse no seu lugar, não saberia dizer se teria tido a sua coragem; pois perdeu todo o seu estatuto social e económico. Os seus filhos foram todos viver para outros países. Todas as homenagens, não tiram o sofrimento, por que passou. A sua Dignidade ficou para sempre, como uma marca que pode ajudar a sermos mais fiéis aos direitos e deveres da Humanidade!


Cecília Pedro  

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