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Então fomos para um motel, à americana, entradas clandestinas, garagens secretas, um sítio discretíssimo onde toda a gente da Margem Sul tinha ido foder pelo menos uma vez nos últimos seis meses – com as amantes, claro, com as mulheres, com as mulheres e as amantes, em quarteto e, confessou-me um velho amigo do bairro, na versão solista. De facto, o maior punheteiro do mundo tem de ser aquele que vai sozinho a um motel.

 

Todos os anos a Feira do Livro de Lisboa é um dos primeiros prenúncios de verão... costumo deambular pelo parque uma tarde inteira à procura daqueles que me farão companhia durante as férias. Este ano “trocaram-me as voltas”, já que só poderei fazer este passeio a partir de 26 de agosto, então, mesmo antes de começarem os meus dias de descanço fui deambular para uma livraria e tive sorte! Encontrei companhia para as férias...

Bruno Vieira Amaral chamou-me a atenção, piscou-me o olho do meio da estante e eu não resisti à imagem de Adão e Eva, e Eva prestes a trincar a maçã. Que sensação essa, da proximidade da dentada, do atrevimento. Que sensação essa, do coração acelerado, do suspiro, dos olhos tão próximos que se lhes distinguem as tonalidades todas da cor.

De seguida fui ler a capa, a contracapa, os prémios (Prémio José Saramago e Prémio de Conto Camilo Castelo Branco) e encontro a fotografia do autor que, me volta a atrair e surpreender. Pensei “é um puto”... Já me tinha aventurado antes com leituras de autores mais novos mas não me prenderam o interesse, soam-me sempre um bocado adolescentes nesta coisa de escrever que exige densidade, e como tenho o defeito ou preconceito de atribuir à idade a sabedoria, cometo o erro de copartimentar gerações. Por muito que subscreva o grito “Abaixo a geração” do José de Almada Negreiros, não consigo evitar pôr de lado os putos com a mania de escrever. Tinha pois à disposição três obras do Bruno Vieira Amaral, mas optei pela ida ao motel. Peguei, paguei, li.

Fez-me companhia nesse dia ao serão e devo dizer que já não vai comigo de férias, só se fosse para o reler. O Bruno escreve com sabedoria e densidade, escreve sobre o que conhece, o que todos conhecemos e vemos diariamente. Sobre o dia de hoje nos subúrbios, que neste caso são de Lisboa mas que poderiam ser outros subúrbios quaisquer. Na calha ficam “As primeiras coisas” e “Hoje estarás comigo no paraíso”. Andarei também atenta ao seu blog https://circodalama.blogs.sapo.pt/

Rita Anjos

Comentários

Já não tenho idade para estes pecados. Mas ainda posso imaginá-los. Vou comprar e ler para ver o que há de novo.

nelson anjos
Não conheço o autor, nem o livro. Quanto ao tema, ao longo da minha vivência, como leitora, li e vi algo sobre esse tema. Sempre existiu a promiscuidade ao longo dos tempos; os encontros em locais escolhidos, ou mesmo festas ou serões a partilhar com todo o ardor que era possível.

Cecília Pedro

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