Pelo Socialismo!
Desde a sua génese que o PS vive à custa
deste rótulo de publicidade enganosa e em poucos momentos da sua história o
partido terá sido – ou sequer querido ser – socialista. Em poucos momentos e por
parte de muito pouca gente. A quem aqui deixo a devida vénia. Seria já motivo
de regozijo maior se ao menos tivesse sido sempre social-democrata. Mas nem
isso.
Serve esta breve introdução para alertar
que na obra de Thomas Piketty – Pelo Socialismo! – o termo não tem
qualquer vizinhança semântica, nem por coincidência, com a ideia dele construída
pelo partido de Soares. E feita a necessária separação de águas, uma breve nota
sobre o livro de Piketty, cuja leitura se recomenda. Onde há teses que me
parecem que sim e outras que me parecem que não.
Nas primeiras, desde logo a ideia de que
precisamos de mudar tudo e que com as atuais estruturas não vamos lá. Tudo e
depressa – acrescento eu. Porque atualmente o designado campo progressista
recusa qualquer ideia ou debate sobre o desenvolvimento da democracia, como
muito bem constata o autor, deixando vago todo um espaço que tem vindo a ser
ocupado pela direita. E também porque hoje o futuro já não é como era dantes: amanhã.
É hoje, se não for antes. E não me incomoda a vaga ideia de socialismo, utilizada
pelo autor, para referir caminhos e tentativas de solução que ainda não se
conhecem. Sei que serão sempre tão provisórios como qualquer outro sistema.
Afinal, sendo certo que a história não acabará com as democracias liberais, por
que raio de especial desígnio haveria acabar com um vago socialismo?
Quanto às segundas, não partilho a ideia
de Piketty, quando diz que apenas devemos abandonar o que temos depois de
termos ideias assentes acerca de caminho(s) alternativo(s). Aqui, prefiro a proposta
de António Machado, que não era sociólogo ou economista. Era poeta: “El
camino se hace caminando”. Não vejo outra forma de lo hacer.
Caminante, son
tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace el camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en la mar.
nelson anjos
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Cecília Pedro