Uma Teoria da Democracia Complexa
(II)
Outra vez o Daniel Innerarity? – “Duas vezes é para os
mais inteligentes: para os outros é sempre a dobrar”. Cito de memória mas é
mais ou menos assim que diz Almada Negreiros (Poeta d’Orpheu Futurista e
Tudo) no seu “Manifesto Anti-Dantas e por Extenso”. E esta Teoria
da Democracia Complexa justifica também mais algumas visitas do Leituras de
Salto Alto. Hoje faço-o a propósito do espanto – que por sua vez me espanta também
– que causou à nata da generalidade dos comentadores políticos o facto das sondagens
eleitorais influenciarem os resultados das eleições. E começo por estranhar que
alguns dos mais elementares princípios da física moderna, muitos deles já não
tão recentes assim e há muito divulgados, não tenham ainda, pelos nossos lados,
substituído o venerável legado newtoniano/cartesiano para acrescentar mais
algum conhecimento às ciências humanas. Que, como se sabe, também são ciência.
Quem nunca ouviu falar no aquecimento ou no arrefecimento da
economia? E quem nunca ouviu referir a entropia das dinâmicas sociais, grandeza
representativa, neste caso, da desordem social? A verdade é que, uns e outros
são parâmetros que tomaram forma no campo da física, mais concretamente na
termodinâmica, tendo mais tarde sido importados pelas ciências sociais. É,
afinal, a natureza holística dessa “coisa” – a realidade – a manifestar-se. No
caso, tornando comuns às ciências sociais e às ciências da natureza os mesmos
conceitos.
Só que, Newton e Descartes envelheceram,
morreram, e não tiveram tempo de perceber mais umas quantas coisas: por
exemplo, e simplificando, que olhar não é um ato passivo, e que o sujeito,
nesse ato, altera o objeto. E uma sondagem é um olhar. Claro que
Einstein, que viu isto e mais algumas coisas, também não viu tudo. Ou seja: não
foi mais do que os outros, os que já passaram e os que estão para vir. Era o
que faltava!
Sabe-se também que o espaço e o tempo
são aspetos – ou perceções – diferentes de uma mesma “coisa”. Tal como a energia
e a matéria. Por exemplo, a água e o gelo são estados diferentes da
“coisa” H2O. Quer um exemplo de correspondência no campo da sociologia? – por
exemplo, o partido Chega, que num determinado quadro social, caracterizado
pelos valores de determinadas variáveis é de extrema direita, se essas
variáveis tomarem outros valores – tal como na física – transforma-se em
partido fascista. Tendencioso? Eu? – pronto, tudo bem! Qualquer outro objeto
social se encontra sujeito ao mesmo tipo de fenómenos.
Ora, servem estes exemplos muito
simplificados para fundamentar a necessidade dos programas académicos de
ciência política, sociologia e vizinhança, conterem uma incursão pelo estado de
desenvolvimento das ciências da natureza. E descobrir com espanto, aí sim,
justificado, quão útil será a teoria da relatividade, a teoria quântica, e os
seus desenvolvimentos mais recentes, nas áreas das ciências humanas, para evitar
gastar páginas e mais páginas de jornais a tentar explicar, sem o conseguir,
porque é que o PS ganhou as eleições com maioria absoluta. Ou seja, passou de
PS a PS (Partido Sistema). As voltas que a vida dá! – lembrar-me eu que sou do
tempo em que alguns colegas iam para sociologia, porque aquilo não era muito
complicado, e nem sequer era necessário ir às aulas – dizia-se então. Vai-se a
ver e …!
nelson anjos
Comentários
Cecília Pedro
Voltamos sempre à "educação que é a arma mais poderosa que podes usar para mudar o mundo", - Nelson Mandela. Eu assino por baixo.