Escola da Rua
A escola é – ou deveria ser – antes de
mais uma manifestação em permanência contra a ignorância. Desde logo com “sala
de aulas” na rua que, como se sabe, é local frequentado por muitas pessoas. Daí
que seja de saudar a iniciativa dos jovens estudantes que, nos últimos dias, num
verdadeiro exemplo de ensino universal gratuito para toda a população, se
manifestaram das mais diversas formas contra a continuação do uso de
combustíveis fósseis. Que, como se sabe, se encontra há muito identificado, sem
que reste hoje margem para dúvidas, como o mais significativo contributo,
decorrente da ação humana, para as alterações climáticas. Considero pois falsas
as notícias que se leram e ouviram sobre a suposta gravidade das faltas dos
jovens às aulas, a propósito das referidas manifestações: afinal, estiveram apenas
ocupados a dar aulas de cidadania à população, tarefa da qual, a meu ver, se saíram
com mérito e distinção; – quanto ao resto … apenas fake news.
O tema levou-me a espreitar sublinhados
de livros lidos há já algum tempo. Hoje fico com Ronald Wright e a sua Breve
História do Progresso. O autor faz o levantamento resumido de quatro antigas
civilizações – Suméria, Ilha de Páscoa, Roma e Maias – e do seu colapso, todas
elas com algo em comum. Se é verdade que foram edificadas pelo homem, não o é
menos que foram por ele igualmente destruídas:
“(…) O Império de Ur com a sua curta vida mostra o mesmo
comportamento que vimos na Ilha de Páscoa; a fixação nas crenças e práticas
enraizadas, roubando ao futuro para pagar o presente, gastando as últimas
reservas do capital natural numa despreocupada farra de glória e riqueza
excessivas. (…)
A Ilha de Páscoa e a Suméria destruíram os seus ambientes de
tal maneira, e acabaram tão mal, que efetivamente se extinguiram. Mas Roma e os
Maias conseguiram sobreviver depois dos seus colapsos em formas “medievais”
simplificadas, deixando descendentes diretos que fazem parte do mundo atual.
(…)
O deserto onde Ur e Uruk se erguem é um deserto feito por
essas cidades. (…)”
E, mais adiante, utilizando um modelo da
economia:
“(…) Se a civilização quiser sobreviver, deve viver dos juros
e não do capital da natureza. As referências ecológicas mostram que no
princípio da década de 1960 os humanos estavam a usar cerca de 70% da produção
anual da natureza; no princípio da década de 1980, chegamos aos 100%; e em 1999
estávamos nos 125%. Estes números podem não ser precisos, mas a tendência é
clara – indicam o percurso para a bancarrota. (…)”
As considerações finais com que o autor
conclui o livro, que apontam para medidas de “moderação”, “princípios
preventivos” e “reformas”, como forma de reverter o caminho que o atual modelo
de civilização vem trilhando, parecem-me manifestamente insuficientes e sem
outro alcance que não seja o de paliativo. É de uma mudança de paradigma que
precisamos com urgência. Resta saber como, e principalmente se ainda há tempo.
nelson anjos
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