Houvesse um sinal a
conduzir-nos
E unicamente ao movimento de
crescer nos guiasse. Termos das árvores
A incomparável paciência de
procurar o alto
A verde bondade de permanecer
E orientar os pássaros
Não é que algum dia tenha
sido um leitor de poesia assíduo e de conhecimentos vastos, mas a obra de
Daniel Faria interessou-me desde os primeiros versos que li.
No poema aqui apresentado,
chamou-me particularmente a atenção o facto de, à partida, o autor assumir a
inexistência de um sinal a conduzir-nos. Ora, isto torna-se particularmente
interessante se soubermos que Daniel Faria era profundamente religioso, tendo
mesmo alimentado aspirações a uma vida clerical, e que a indagação espiritual
atravessa a sua obra de forma constante. Da minha perspectiva (sempre
subjectiva no que toca a textos poéticos), existem duas interpretações
possíveis que se destacam entre as demais que me tenham ocorrido. A primeira é
a de que este poema tenha sido escrito num momento de crise espiritual, que
levasse o autor a questionar a existência de algo semelhante a uma orientação
divina. A segunda hipótese, que me parece evidente e merece a minha
preferência, é que o sentimento religioso de Daniel Faria se encontra num
patamar muito distante da dimensão dos santinhos e dos pastorinhos, na qual se
agrupa a generalidade da população cristã. Lendo um pouco mais da obra de
Daniel Faria, fico com a ideia de que a religião teve para ele uma dimensão
amplamente filosófica e introspectiva, uma forma de procurar a resposta à velha
questão: Porquê?
Já esta análise, convém
saber, foi feita pelo pensamento de um ateu. Outras mentes de crenças
religiosas bem arreigadas terão, provavelmente, interpretações díspares. De uma
forma ou de outra, aqui fica, como sugestão, um poeta que vale a pena conhecer.
Comentários
Como se sabe, a reflexão mística não tem que convocar necessariamente a ideia de Deus. Seja lá isso o que for: o dos pastorinhos, o do Papa Francisco ou o do Jorge Jesus. Por mim, que sou agnóstico, fico-me por isso mesmo: pela ignorância, que tem a mesma raiz que agnóstico. E manda o bom senso que nos calemos, sobre aquilo de que nada sabemos. Mais ainda quando, como dizia o outro, nem sequer isso sabemos muito bem. E quanto à fé, pelo menos no seu sentido religioso, por aí me fico também.
Quanto ao “molho”, é mesmo mais do que isso: é uma molhada. Não existe o que quer que seja que não possa suportar uma reflexão mística. Ou espiritual. O campo da filosofia agrada-me mas descobri mais tarde a física moderna. E achei extraordinário como uma área que antes se auto elogiava como “ciência exata”, progressivamente foi avançando por territórios cada vez mais vizinhos de regiões de névoa, ambiguidade, dúvida. Arte. Por vezes a convocar um certo espírito “religioso”.
Mas o comentário já vai longo. Não conhecia Daniel Faria. Se gostas de poesia com um certo ambiente místico, sem por isso perder em qualidade e elegância, do que conheço o melhor é Ruy Belo.
nelson anjos
Ao contrário disso o Francisco traz-nos uma figura invulgar (pelo pouco que li), de uma grande sensibilidade, praticamente desconhecida. Muita pena que se tenha finado tão novo.
Gostei muito do poema. Acho-o de uma beleza suave, luminoso. Tenho que ler mais.
Quinteiro