Cá dentro o professor Rui Correia fala do que passa dentro da escola, dentro dos alunos, dos professores e dos pais, mas não os isola em ilhas, relaciona-os em todas as suas desarmonias. O professor Rui não aponta dedos nem atribui culpas, mas reconhece a urgência da escola e lá dentro, os professores, servirem os alunos que a frequentam, reconhecendo neles a casa de onde vêm todas as manhãs, o seio familiar onde se movem e aprendem a ser pessoas, os lugares que frequentam dali para fora... é que dentro de cada aluno vive essa pessoa múltipla que muitas escolas (e dentro delas muitos professores) insistem em não ver, não considerar na equação.
Cá dentro, o professor Rui oferece uma bagagem de
estratégias para que os menos criativos se inspirem e se tornem eles
inspiradores.
Mas cá dentro há também os mínimos, que ao pecar por excesso
de urgência e atualidade, são diariamente atropelados. O mínimo de uma letra
legível, o mínimo do cálculo mental, o mínimo da História, o mínimo da literatura...
Cá dentro o professor Rui Correia prova (não que
necessitasse de o fazer) porque ganhou o Global Teacher Prize Portugal 2019.
Comentários
Não conheço o livro que a Rita nos trás mas fico com alguma curiosidade. Será possível uma ou duas daquelas passagens que muitas vezes sintetizam o essencial do pensamento do autor?
nelson
" A escola preenche um lugar que, uma vez vazio, também nunca ficaria por ocupar. A vida sempre se encarregou de fazer aprender quando a escola não estava disponível. Sempre existiu vida sem escola. Ainda hoje são aos milhões as pessoas que não têm acesso a uma escolaridade. Os níveis de desenvolvimento dessas comunidades são exclusivos e socialmente diminutos. Mas sempre existiu vida sem escola, o que nunca existiu foi vida sem aprendizagem."
nelson
Não li este livro nem nenhum outro de semelhante matéria e confesso que conheço quase nada do que se passa hoje no interior e nas “imediações” das escolas. Por isso é-me difícil comentar. Mesmo assim, pelo interesse do tema, arrisco:
Pelo que me é dado a conhecer, as escolas, principalmente os primeiros ciclos, mudaram muito desde que eu por lá passei. Os métodos de ensino e sobretudo o acompanhamento dos alunos por parte dos professores são substancialmente diferentes. O ensino e acompanhamento na altura eram mais à base de reguadas, bofetadas, puxões de orelhas e outros mimos similares. Certo dia, teria eu 11 ou 12 anos, no chamado “Ciclo Preparatório” (5º e 6º ano de hoje), o meu professor de francês estalou uma canada (com uma cana da índia, espécie de bambu) na minha cabeça, por eu, ao escrever um ditado no quadro da sala, hesitar ao escrever a palavra “ela” em francês, ou seja, momentaneamente não me lembrava se era “ele” ou “elle”. Como todos saberão, a canada na cabeça servia para nos activar as funções cerebrais e nos reavivar a memória. De tal modo que instantaneamente escrevi “elle” e andei duas ou mais semanas com um galo negro na cabeça do tamanho de uma noz para nunca mais esquecer como se escrevia “ela” em francês.
Em completa oposição aos métodos acima descritos, há quem defenda que a escola deveria ser livre, não obrigatória. Os professores, os homens/mulheres do saber, estariam na escola, como na antiguidade, Sócrates ou Platão, e receberiam os alunos que os questionariam sobre as matérias que estudavam ou que lhes interessavam. Os alunos escolheriam este ou aquele professor consoante a sabedoria deste na matéria em estudo.
A mim parece-me uma ideia interessante. Seria uma forma de tornar a escola mais apelativa, pois qualquer um poderia escolher as matérias que mais lhe interessassem e daí estudar com mais agrado, mais empenho. Seria também um modo de “desinstitucionalizar” as escolas, de torna-las não um dever mas uma descoberta.
Como se faria isto, sobretudo com os mais jovens, crianças e adolescentes, não faço a mínima ideia. Provavelmente é uma utopia, não resultaria. De certeza que o bom método estará entre uma e outra forma, pois “no meio é que está a virtude”. Uma coisa é certa, ainda muito tem de ser feito no nosso país, não só pelos professores, mas por todos sem excepção, para que a aprendizagem, a instrução, a educação, sejam um sucesso, sendo isso de importância vital para o país e para as gerações futuras.
PS:
O ditador Salazar, num dos seus célebres discursos à nação transmitidos pela RTP, dizia: "Os portugueses, devido à sua riqueza interior, não sentem necessidade de aprender a ler".
Quinteiro
Sinto aqui um orgulhozinho docente por caminhar na minha profissão com a escola do senhor que ainda no século IX disse que não se pode ser verdadeiramente Homem sem se saber ler. O senhor João de Deus que escreveu a Cartilha Maternal para responder à urgência de ensinar a ler, para que as mães ensinassem os filhos e estes viessem a ser Homens de verdade.