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A mostrar mensagens de junho, 2021
  Cunha à Portuguesa        Anatomia da Cunha Portuguesa é um estudo de João Ribeiro-Bidaoui, orientado pelos cânones da investigação científica na área da sociologia. O autor escalpeliza, quase à exaustão, os meandros da plasticidade dos comportamentos humanos que conduzem à popularmente chamada “cunha”, designação que não enjeita e adota sem aspas: CUNHA.        Ao escrever atrás “… quase à exaustão …” quero referir o que me parece uma lacuna na obra, tanto mais se atentarmos numa das principais referências fundadoras da nossa cultura: o “cristianismo”. Que obviamente escrevo entre aspas. Quem não recorda, desde os seus tempos de criança, familiares a “meter cunhas” a Nossa Senhora e a uma venerável lista de santos e santinhos, favores esses a liquidar em cache, velas ou terços – os brincos ou o cordão de ouro eram também moeda corrente muito apreciada pela Padroeira da Nação – logo que fosse confirmada a sua conce...
         Gostaria de abordar novamente o tema apresentado pela Rita na sua intervenção de há duas semanas. Recordo que no seu texto, a Rita narrava uma situação em que, numa conferência, se viu confrontada com uma "Professora Doutora" que defendia a ideia de que as crianças deveriam, a bem de um desenvolvimento equilibrado e harmonioso, ser apenas sujeitas a emoções positivas. Este é o tipo de ideias às quais se adequa a qualificação "bullshit", e aparentemente Tolentino Mendoça comunga da minha ideia, se bem que com outra elegância.     Acreditar que um crescimento harmonioso e equilibrado dispensa a experimentação de emoções negativas é, a meu ver, uma ideia tão absurda como acreditar que a terra é plana. Tanto uma como a outra são teorias desmentíveis por uma mera observação atenta da realidade. Uma criança que não passa por emoções negativas é uma criança que não aprende a perder. É uma criança que, ao longo da sua vida, vai fazer a típica cena "Ag...
  Doze Anos de Escravidão Autor: Salomon Northup Solomon Northup nasceu no condado de Essex, em Nova Iorque, em Julho de 1808. Era filho de um escravo liberto, o que o tornava um homem livre por direito. Agricultor e violinista, Solomon possuía uma propriedade em Hebron e tinha três filhos. Em 1841 foi raptado por esclavagistas, que o persuadiram com uma promessa de emprego bem remunerado como violinista em Washington. Em vez disso, Solomon foi drogado e vendido como escravo a uma plantação da Luisiana. Foi mantido como prisioneiro durante doze anos, passando pelas mãos de vários donos, sem que a sua família conhecesse o seu paradeiro. Sofreu humilhações, espancamentos e até torturas. Tentou por diversas vezes escapar e enviar mensagens para fora da plantação. Apenas doze anos mais tarde conseguiu fazer chegar notícias a conhecidos que, por sua vez, contactaram amigos e o Governador de Nova Iorque, Washington Hunt. Recuperou a liberdade em Janeiro de 1853, voltando para a família e...
  O senhor é parvo   O senhor é parvo Parvo é o senhor Senhor dos Passos Passos do Concelho Concelho de Ministros Ministro de Guerra Guerra Junqueiro Junqueira Alcântara Alcântara-Mar Mar da China China Xangai Xian-Kai-Xeq Xeque-mate Mate o senhor O senhor é parvo...   Luísa Ducla Soares   Há um tempo estive numa conferência dedicada ao ensino na infância onde uma senhora oradora defendia o envolvimento das crianças só e apenas em “emoções positivas” para que o seu desenvolvimento fosse harmonioso e equilibrado. Não me dedico ao estudo exaustivo do envolvimento emocional das crianças mas parece-me que o desenvolvimento completo do ser humano deve passar por todas as cambiantes emocionais possíveis e imaginárias, e que isso sim, é positivo. Foi com imenso espanto que descobri que existe quem defenda, de facto, que as crianças só podem ter contacto com aquilo que definem com...
  ESTEIROS “Para os filhos dos homens que nunca foram meninos, escrevi este livro”   Hoje, 1 de Junho, dia da criança, evoco a obra “Esteiros” de Soeiro Pereira Gomes, um dos livros que redescobri nestas minhas andanças de sindicalista. Chamo também a cena este autor porque, nos últimos dias, foi rodado em Miranda o filme “O Pio dos Mochos”, inspirado num dos seus “contos vermelhos”. Publicada em 1941, a obra narra a vida de jovens trabalhadores nas margens dos esteiros do Rio Tejo, em Alhandra, que fabricam peças de barro nos telhais. A história centra-se no percurso de Gaitinhas, Maquineta, Malesso, Cocas, Sagui e Gineto, abrindo-nos as portas da sua miséria e do seu sofrimento, arrastando-nos na busca do sonho – única saída para a pobreza e a exclusão – e da liberdade. Vemos estas crianças, os estivadores, os arrais, os descarregadores de carvão no seu trabalho árduo e penoso, situação contrária à das personagens que representam as classes privilegiadas, donas da riqu...