O
Príncipe
Percy Kemp
Vivemos num mundo mergulhado em sucessivas
crises económicas, sociais e políticas, para as quais os líderes mundiais,
manifestamente, não conseguem encontrar soluções.
Inspirado em Nicolau Maquiavel, o escritor
anglo-libanês Percy Kemp apresenta-nos um tratado satírico de conselhos aos
governantes, “que se sintam hoje ultrapassados pelos acontecimentos e
necessitem de novas formas de exercer o poder e da melhor forma de o conservar”.
Com «Le Prince», este mestre do romance de
espionagem abandona o género para se consagrar a um ensaio capaz de decifrar os
grandes desafios geopolíticos actuais e a impotência em que se sentem
mergulhados os actuais príncipes da governação.
Que resume o seu propósito de uma forma
bastante eloquente: “Da Guerra de Tróia à Guerra Fria, passando pela Guerra
dos Cem Anos, o inimigo sempre esteve no cerne das preocupações do Príncipe e
constituiu a principal fonte de perigo, que sobre ele pousava. Mas será ainda
assim?”
Neste livro consagrado ao exercício
do poder, e que surge cerca de quinhentos anos depois do «Príncipe» de
Maquiavel, de que retoma deliberadamente o título, Percy Kemp refuta a ideia
comum em como, hoje em dia, são os inimigos a principal ameaça a pesar sobre o
Príncipe.
Baseando-se na constatação de como o mundo
mudou mais nestes últimos cem anos do que acontecera nos três ou quatro
milénios anteriores, ele avança com uma hipótese ousada: hoje, a verdadeira
ameaça ao Príncipe resulta da aceleração da História, que multiplica os
acontecimentos até ao infinito e o impede de gerir em seu proveito os sempre
crescentes imprevistos, que acabam por beneficiar os seus inimigos.
Ele demonstra ainda que, ao contrário do
que se passava no tempo de Alexandre ou de Dário, de Napoleão ou de Wellington,
senão mesmo no de Kennedy ou de Khrushchev, em que importava subjugar o
inimigo, o que agora ganha relevância é a capacidade de adaptação aos
acontecimentos e o autodomínio de si mesmo.
Uma lição, que importa ser entendida por
quem quer exercer o poder, seja à esquerda, seja à direita!
Pedro Mendes
Comentários
Primeiro, porque a "capacidade de adaptação aos acontecimentos" constitui uma estratégia de sobrevivência, tão velha quanto a vida, adotada por inúmeras espécies, que lhes tem permitido - como por exemplo à barata - a continuidade da espécie, ao longo milénios até aos dias de hoje.
Segundo - e não sei se por pedagogia da barata - não posso deixar de referir o caso português: quem não conhece um dos nossos exemplos maiores, em capacidade de adaptação? - Refiro-me a Júlio Dantas, que foi deputado durante a monarquia, ministro na 1ª República e embaixador no Estado Novo. Só não foi Presidente da Assembleia Municipal - por exemplo de Miranda do Corvo - porque em Abril/74 já tinha morrido. Na nossa língua temos até uma expressão própria para referir esta tão elevada virtude: "jogo de cintura".
Terceiro, porque a "aceleração da história" - e o consequente aumento de entropia a que dá origem - também já há muito é objeto de estudo por parte de muita gente. Estou-me a lembrar, por exemplo, entre outros de Alvin Toffler.
nelson anjos
nelson anjos