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A mostrar mensagens de fevereiro, 2021
  (Este texto destina-se ao Volume 3 de “Exílios”, em fase de preparação pela AEP61-74)   As Sombras do Tempo (Exílios, 2º andamento)        A narrativa acerca de factos ocorridos passado mais de meio século é sempre uma montagem do espírito de quem os vivenciou. Materiais diversos aí concorrem, desde realidades olhadas de longe a realidades da imaginação. E omissões também – umas intencionais, outras simples obra do tempo: Esse Grande Escultor , como lhe chamou Marguerite Yourcenar. O regresso às memórias da deserção sempre me trouxe um sentimento, algures entre o luto que ficou por fazer e um passado que tenha ficado por passar.        A consciência de que a imposição boçal da presença do colonizador era, por si só, uma agressão aos povos naturais, implicou sempre, para mim, a certeza de uma outra história, de liberdades, que embora suspensa mantinha a promessa de se cumprir.      ...
  EXÍLIOS Prelúdio (ou o homem como obscenidade)       Quer a descrição e a economia de palavras, por parte de uns, quer o excesso delas, por parte de outros, que fizeram notícia da morte de Marcelino da Mata, ocorrida recentemente, mostra a incomodidade com que o país continua a lidar com os aspetos mais negros do seu passado colonial. Natural da Guiné-Bissau, produto da engenharia de guerra de Spínola, Marcelino da Mata foi um dos mais condecorados militares do exército português.        Nos finais da década de sessenta, do século passado, calcorreei também os mesmos trilhos que ele e a sua tropa, nas matas do norte da então Província Ultramarina da Guiné : Farim, Cuntima, Saliquinhedim, Lamel. Ouvi o fogo do outro lado. Ripostei. E ouvi também os “Roncos” – grupo de milícia creio que por ele formado, quando era ainda cabo, ou sargento – falarem da prática, entre outras, de cortar as orelhas aos inimigos mortos na guerr...
  OS DOIS MANDAMENTOS             "Tenho um problema com os Dez Mandamentos: porquê dez? Não eram precisos tantos. Parece-me que a lista de mandamentos foi artificialmente aumentada para chegar aos dez. Aconteceu da seguinte maneira: Há cerca de cinco mil anos, um bando de religiosos, políticos e traficantes reuniram-se para descobrir como poderiam controlar as pessoas e mantê-las na linha. Eles sabiam que as pessoas eram estúpidas e acreditariam em qualquer coisa que lhes dissessem, por isso anunciaram que Deus entregou pessoalmente a um deles uma lista de dez mandamentos que todos deveriam seguir. Alegaram ainda que tudo aconteceu no topo de uma montanha, onde não havia ninguém que o testemunhasse.             No entanto eu interrogo-me: quando estes gajos se reuniram para falar do assunto, como foi que chegaram ao número dez? Porquê dez? Por que não nove ou onze? Eu digo-vos porquê: porque d...
BRAIN DROPPINGS    George Carlin "Informo, com satisfação, que há pouca coisa no mundo em que eu acredite. Quando outros comediantes comentam questões políticas, sociais e culturais, apercebo-me de que a maior parte do seu material reflete uma crença subjacente de que, de alguma forma, as coisas foram outrora melhores e que, com um pouco de esforço, poderíamos tudo corrigir. Procuram soluções e torcem por resultados específicos, o que, no meu entender, limita necessariamente o tom e a substância daquilo que dizem. São talentosos e engraçados, mas não são mais do que elementos de uma claque que anseia por um determinado resultado. Já eu, não me sinto assim tão limitado.  Francamente, estou-me a cagar para o futuro deste país – ou, na verdade, de qualquer outra parte do mundo. Acredito que o destino da humanidade foi traçado há muito tempo (quando os homens de Deus e do dinheiro assumiram o controlo), e hoje limitamo-nos a cumprir o calendário. É isso, precisamente, que e...
 Dança com os Lobos, de Michael Blake Neste livro iremos descobrir não só a coragem e bravura de um soldado, durante a Guerra Civil Americana, que se destacou pelo facto de enfrentar o inimigo a 'peito aberto'; tendo por isso recebido uma condecoração. Mas também a ligação do mesmo soldado, que pediu para ser destacado para a fronteira, pois queria conhecer outros lugares; ficando perto de um acampamento de Índios Sioux, com os quais iria ter uma amizade fraternal. A viagem, a chegada a um posto vazio, mas que ele se esforçou por organizar, esperando pela chegada de reforços. A sua ligação com o seu cavalo cisco e um lobo, que o foi acompanhando no seu dia a dia. Mais tarde o conhecimento com o povo Índio, aprendendo os seus valores para com a natureza, e a vivência em comunidade, que o fez reflectir sobre a realidade da guerra entre os brancos e  índios. Aí, encontra o Amor por Cristina, mulher branca criada pelos índios a quem tinham dado o nome 'com o punho de pé.' O...
  “Bolos   A feitura dum bolo é a mais feminina de todas as atividades caseiras da mulher. Poderia até parafrasear-se Brillat-Savarin, dizendo «faze-me um bolo, dir-te-ei que espécie de mulher és». Em verdade, na leveza da massa dum bolo, na sua finura de aroma, na delicadeza da apresentação, reúnem-se, em esplendor, requintes de bom gosto e de carinho, que de relance constituem um autêntico cartão de identidade do grau de feminilidade de quem o executou. Neste capítulo, verdadeiramente excecional, há 295 receitas, das mais simples às mais elaboradas. Poderão, durante quase um ano, fazer um bolo diferente em cada dia.”                                                              *  *  *   Nada como uma citação deliciosamente histórica para iniciar um capítulo igualmente delicioso deste livro. Corria ...