Os
Maias
(…) - É extraordinário!
Neste abençoado país todos os políticos têm imenso talento. A oposição confessa
sempre que os ministros, que ela cobre de injúrias, têm, à parte os disparates
que fazem, um talento de primeira ordem! Por outro lado a maioria admite que a
oposição, a quem ela constantemente recrimina pelos disparates que fez, está
cheia de robustíssimos talentos! De resto todo o mundo concorda que o país é
uma choldra. E resulta portanto este facto supracómico: um país governado com
imenso talento, que é de todos na Europa, segundo o consenso unânime, o mais
estupidamente governado! Eu proponho isto, a ver: que, como os talentos sempre
falham, se experimentem uma vez os imbecis! (…)
Eça
de Queirós
Caríssimo Senhor Doutor João da Ega,
Escrevo-lhe no ano de 2022 a um domingo
em que nós, neste abençoado país, escolhemos um governo que substitua o
anterior, caído em desaprovação orçamental.
Lamento informá-lo que mantemos a
tradição de ser governados por cavalgaduras com imenso talento, que insistem em
viver a atividade política na crista da incompetência. Senão vejamos:
Estamos no mês de janeiro e as
temperaturas no nosso país são primaveris. O sol brilha, não há pinga de
chuva... o campo seca e os incêndios florestais, que aconteciam no verão (como
se a estação a isso obrigasse), já tiveram lugar. Tudo devido a um conceito novíssimo
que criámos para conseguirmos manter o très
chic estilo de vida a que nos habituámos, Aquecimento Global. Crê o
Senhor Ega que algum dos candidatos insistiu neste tema no decorrer da campanha
eleitoral?
Vivemos uma crise na educação que, de
resto, se mantém atual há muitos anos... não a educação, mas sim a crise nela.
As crianças, os adolescentes, os adultos, os velhinhos não aprendem, mas pior,
não querem aprender. As massas colam-se a ecrãs que as entretenham. Queira
desculpar o palavreado, não pretendo soar incompreensível, porém, no tempo em
que vivemos existem retângulos onde acontecem coisas enquanto nós, as massas,
os espectadores observam. A sensação é a de o ser não vivo estar a viver,
enquanto o ser vivo está como que morto observando. Crê o Senhor Ega que algum
dos partidos referiu a urgência na educação?
Para não me alongar irei
apenas falar-lhe da questão da saúde... essa tem sido um gigantesco calcanhar
de Aquiles acerca do qual ninguém pode comprometer-se a dizer absolutamente
nada porque o que se disser hoje, será absolutamente mentira amanhã! Dado que
nenhum dos senhores candidatos a formar governo quer ser apanhado na curva, a
estratégia foi clara, não se fala mais nisso.
Como os talentos sempre falham, e uma
vez que também já se concluiu que, tendo sido experimentados os imbecis em
terras “Além-Atlânticas” com péssimos resultados, os políticos desta choldra
depositaram a fé nos seus animais de estimação, passando-lhes procurações de
plenos poderes em plena campanha eleitoral.
Com elevadíssima estima e consideração,
Da sua amiga e admiradora,
Rita do Vale Anjos
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Cecília Pedro