Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de outubro, 2021
'O Homem Que Plantava Árvores', um conto de Jean Giono Numa viagem pelas montanhas dos Alpes, passando por uma região pouco conhecida, na Provença, o autor depara-se com uma paisagem desértica a mil e duzentos ou trezentos metros de altitude. Existiam apenas alfazemas-silvestres. Foi caminhando, e nada encontrou a não ser pequenas casas em ruína, onde acampou por algumas horas. Não tinha água desde a véspera e não sabia onde a encontrar. Seguiu caminho na esperança de encontrar um poço, onde pudesse abastecer o seu cantil. Mais à frente vê um vulto escuro de pé. Ao aproximar-se verifica que é um pastor. Este acolhe-o sem fazer perguntas e dá-lhe de beber. Acaba por ficar, na sua humilde cabana, partilhando a frugal refeição, que lhe foi oferecida. Mais tarde, o pastor vai buscar um saco e começa a repartir o seu conteúdo. Foi selecionando as bolotas, para depois as separar em montinhos de dez. Aí, separou as que estavam mais frágeis, guardando o resto para no outro dia ir plant...
  Elogio da Bicicleta           Nos últimos tempos tornou-se prática comum, e quase exclusiva, por parte dos analistas sociais, o recurso ao ciclo , como modelo de base para a sua atividade. Conforme o objeto da análise, fala-se do ciclo António Costa, ciclo Rui Rio, ciclo PS, ciclo “geringonça”. Parece-me contudo que, para além destes ciclos de raio curto, um outro muito mais abrangente, que os envolve a todos e que os mesmos analistas vão evitando referir, vai fazendo o seu curso aproximando-se inexoravelmente do seu termo: refiro-me ao ciclo constituído pelo modelo económico vigente – o capitalismo – e culturas e instituições que ao longo do seu desenvolvimento se lhe associaram e o foram estruturando.        Estou em crer que, pelo menos isto, e pelo menos o PCP – ou algum dos seus setores – ainda não o terá esquecido. E tenta nesta altura – não sei se a melhor ou sequer ainda a tempo – desatolar-se do pântano social-de...
  O Homem que não Tira o Palito da Boca   “(…) São poucos, por conseguinte, os acontecimentos que emocionam os homens e as mulheres que habitam o musseque do Sambila, em Luanda. Nem choros de crianças, nem gritos de mulheres espancadas pelos maridos, nem farras barulhentas, nem ruídos de brigas em plena rua, nem tiros, nem sirenes da polícia, ou de ambulâncias, nem demolições, nem notícias de assaltos, assassínios, óbitos esperados ou imprevistos ou epidemias desconhecidas – nenhum desses factos é considerado suficientemente inusitado para comover os habitantes do Sambila, levando-os a alterar a sua rotina de várias décadas. (…)        (…) Essa “mornez histórica” de que falava o poeta foi, literalmente, estilhaçada no dia em que a Virgem Maria apareceu no Sambila. (…) “.        O excerto é retirado de uma das estórias do livro O Homem que não Tira o Palito da Boca, de João Melo, escritor e político angolano....
  Valter Hugo Mãe, publicou em outubro de 2016, Homens Imprudentemente Poéticos , três anos após a edição do incontornável Desumanização . Após 25 anos de publicações, o autor é já considerado um marco incontornável da literatura portuguesa atual. A sua obra, traduzida em inúmeras línguas, tem trazido a Hugo Mãe reconhecimento universal. Co-fundador da Quasi edições , torna-se conhecido com a atribuição, em 2007, do Prémio Literário José Saramago com o romance o Remorso de Baltazar Serapião . Este livro do escritor conta a história de uma pequena aldeia, perdida num Japão longínquo e passado. Gira em torno da inimizade entre o artesão Ítaro e o oleiro Saburo, e da promessa tácita e intima de secretamente se assassinarem. As personagens centrais do romance vão demonstrando as diferenças fundamentais que os afastam um do outro. Saburo, o oleiro, que perdeu a mulher (num episódio que Ítaro havia previsto), vive aprisionado a um passado que crê poder retornar. As amarras da perda encu...
  O Triunfo dos Porcos          Ocorreu-me revisitar – vá-se lá saber porque pérfida e obscura associação – esta conhecida obra de George Orwell, a propósito do último processo eleitoral autárquico cuja fase de balanço ainda decorre.      O Triunfo dos Porcos é uma sátira mordaz, sob a forma de fábula, por onde desfila toda a sordidez que a disputa do poder em regra engendra. E o fenómeno é de tal modo universal que até na pequena quinta (concelho) onde habito – Miranda do Corvo – me cruzei com algumas das personagens centrais da novela de Orwell. Os porcos Snowball e Napoleão , bem como o histórico das suas desavenças, levou-os certamente daqui o malicioso autor para o seu livro. Caso contrário, como explicar tantas coincidências?      As disputas entre Snowball e Napoleão , em cuja origem estaria a estreiteza do curral onde cada um pretendia assegurar hegemonia sobre o outro – o velho clássico, neste caso n...