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A mostrar mensagens de março, 2022
  Avril au Portugal        “Abril em Portugal”, também conhecida por “Coimbra” – ou seria ao contrário? – é uma canção dos finais da década de 40 (?) do século passado, com música de Raul Ferrão e letra de José Galhardo. Contando com múltiplas versões em diversas línguas, serviu durante décadas, em particular durante o Estado Novo, juntamente com outras bandeiras, para aliciar turistas a virem conhecer as delícias do País,– para além dos brandos costumes, do amor a rodos e do clima ameno. Recordo de forma mais nítida a versão francesa (Avril au Portugal) , para a minha geração a segunda língua. Que o SNI (Secretariado Nacional de Informação) – a máquina de propaganda do regime – não desdenhou usar para promover à exaustão o folclore cá da praça.        Do abril de então para o evocado na capa do livro que hoje trago, transitaram e mantiveram-se até aos dias de hoje muitas das chagas de que falam estes “ 45 anos de co...
  As Grandes Questões do Nosso Tempo “(…) Mas também penso que todo o partido deve lutar contra a sua tendência para se autofinalizar e para se tomar pelo todo; que todo o partido de tendência burocrática se deve empenhar e se auto-reformar constantemente, e que se deve romper com o partido que seja ao mesmo tempo sectário, burocrático, militar e jesuíta. Penso que se pode tomar partido, não só nos partidos, mas também nas associações, nas ligas e nas coligações que se imponham consoante os fins visados. Penso que é necessário ultrapassar as formas de partidos tais como existem presentemente. (…)” (Sublinhado meu).        Edgar Morin – As Grandes Questões do Nosso Tempo – leitura de 1984, tempo que continua a ser o nosso, com muitos sublinhados e muitas anotações nas margens, terá sido a última tábua pregada no caixão das minhas já muito debilitadas convicções relativamente ao modelo partido . Também ele, por sua vez, há muito caixão de nobres id...
  Poesia: dos livros, às vozes, aos tomates Tenho escrito neste espaço sobre livros que tenho lido, mas, uma vez que tenho a sorte de possuir mais do que olhos, o mundo entra pelos sete buracos da minha cabeça. Sinto a obrigação (ou necessidade compulsiva) de escrever qualquer coisa sobre as coisas que brotam da rádio. Provavelmente será só e apenas impressão minha (assim espero), mas que saudades de ouvir vozes poderosas a cantar músicas inspiradoras com poemas frutos de momentos inspirados de seus poetas. Só me têm chegado às orelhas dessas vozinhas de meninas virgenzinhas (de anteontem) a cantar sobre: “o teu coração Deixou o meu coração, Entregue à solidão, Nas asas do avião” É sempre urgente possuir tomates. Agora, mais do que nunca. Não invalido os poemas e as cantigas de amor, nunca desistirei de ouvir a Amália (com a voz carregada de tomates...), a Elis (...outra), nos poemas do Ary ou do Vinícius. Por estes dias cada macaco havia de subir ao seu galho e has...
  Os Equívocos do Cristianismo e seus Derivados       Algo desconjuntada, com pó e restos de teias de aranha antigas, a velha caixa de cartão lembrava um baú esquecido - algures no porão de algum velho veleiro há muito abandonado em qualquer último porto. Foi assim que há tempos me chegou às mãos. Algumas manchas de humidade, de contornos difusos, como é próprio do tempo e das neblinas salgadas desenharem, sugeriam antigos mapas de bordo.        Dentro havia uma mão cheia de velhos livros, onde a traça já tinha deixado marcas. Ao longo de meio século, por países, cidades, ruas, amores e desamores onde eu tinha feito paragem, tinham feito   também a sua viagem. Peguei em dois ou três ao acaso e, quase sem interesse folheei um deles: Filosofia Marxista – Compêndio Popular . Numa das primeiras páginas dizia tratar-se de um concurso aberto pela Academia de Ciências Sociais do Comité Central do PCUSS, no âmbito do qual o tr...
  A incomensurável virtude do NADA          Tive em tempos um colega de profissão, nos idos da ida Portugal Telecom, cuja peculiar carreira profissional tanto poderia ser estudada no âmbito das ciências ditas da natureza , como no âmbito da sociologia . Sempre que era objeto de mais uma promoção, o que acontecia de forma amiudada, a penumbra dos corredores era tomada por um coro de murmúrios já tornado habitual: mas o que fez de relevante Fulano de Tal – era este o seu nome – para ser mais uma vez promovido? E a pergunta, em regra sem resposta, onde a inveja e o despeito por vezes lhe retiravam a natural legitimidade, ficava a pairar até que a próxima graça se derramasse sobre o bem-aventurado.        Um dia houve em que, qual iluminação, à interrogação que se sucedia a mais uma benesse concedida, “ mas o que fez de relevante Fulano de Tal para ser mais uma vez promovido? ” seguiu-se fulminante a resposta:  ...